terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bah II

A Moody's hoje mandou o rating da nossa dívida externa para Ba2. "Bah" é um excelente termo para a reacção que estas notícias me provocam. "Bah" porque aparece uma nova de quinze em quinze dias, "Bah" porque isso não quer dizer nada e estes são os mesmos senhores que um dia antes do Lehman Brothers ter falido dava-lhes Aaa.
"Aaaah!", exclamam agora os leitores mais desatentos, "A sério?". "Aaa sério", respondo eu e páro com os trocadilhos parvos.

Agora a sério: se vocês tivessem a possibilidade de fazerem o que quisessem sabendo que o mundo inteiro ia responder ao que fizessem como se fosse a verdade absoluta, vocês não aproveitariam para se divertir um bocado? Eu dava ABC à dívida externa do Quirguizistão e 0Rh- à do Burkina Faso. "Mas, ó Bogas," reparam vocês, inebriados, "esses ratings nem sequer existem". Pois não, e por isso é que seria mais divertido.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O teu pai deve ser pedreiro

Sucede que estão a fazer obras no prédio ao lado do meu. Sucede também que sou trabalhador noturno. Isto quer dizer que, logo pela fresca e depois de ter dormido a razoável cifra (se se for o Professor Marcelo) de três ou quatro horas, tenho indivíduos a martelar pedra a menos de dez metros dos meus ouvidos. Ora, isto é coisa para agastar uma pessoa,
Especialmente porque, e isto foi algo que eu nunca entendi, após as onze e meia da manhã, é o silêncio mais absoluto. Lembro-me de ter vivido uma situação semelhante nos tempos idos da minha meninice (2004) mas aí eram ainda mais radicais, porque ligavam o martelo pneumático às 8.30 em ponto todos os dias. Na altura não era trabalhador noturno, mas era estudante universitário, o que vai dar no mesmo.
Será que houve uma reunião de trolhas um dia e eles resolveram "É pá, o que era mesmo fixe era nós sermos despertadores não oficiais do mundo. Assim só tínhamos que trabalhar de manhã e à tarde podíamos beber minis e trabalhar nas nossas composições poéticas. As pessoas ficavam-nos agradecidas porque não se atrasavam para o trabalho e toda a gente ganha".
O que é claramente raciocínio de trolha, porque a) ninguém fica agradecido por ser mandado para o trabalho a tempo. Isso é como um recluso agradecer aos guardas prisionais por não o deixarem escapar da cadeia antes de cumprir a sentença; b) EXISTEM PESSOAS QUE NÃO VÃO TRABALHAR ÀS NOVE DA MANHÃ, MINHAS BESTAS! DEIXEM-ME DORMIR!

(E se se estão a perguntar: "composições poéticas? Os trolhas?", permitam-me que responda com o seguinte exemplo:
"Oh, estrela, queres cometa?"

Se isto não é poesia, não sei o que será.)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Rei de Pau

Foi ontem anunciado o Manifesto "Instaurar a democracia, restaurar a monarquia" (pode ser lido aqui:   http://estadosentido.blogs.sapo.pt/1912704.html). No comunicado, assinado pelo impressionante número de 18 pessoas, lê-se que "a democracia está ausente" em Portugal e que para assegurar isso, é necessário um chefe de Estado "eleito pela História" - um rei e, nomeadamente, Dom Duarte Pio.

Primeiro - Eu bem me parecia que aquela coisa que eu faço de vez em quando que envolve meter uma cruz num papelinho numa cabina era só uma alucinação induzida pelo consumo excessivo de certos fungos. Se não fosse a clarividência destas pessoas não sei o que seria de mim.

Segundo - Eu assinava uma declaração destas em que quisessem restaurar a democracia para mim. Infelizmente, parece que o Manifesto só quer restaurar a democracia para a História, uma vez que na única menção a alguém eleger alguém, é esta a eleger o chefe de Estado. Uma democracia em que só há um votante para chefe de Estado parece-me... como hei-de dizer...? Esquisita.

Terceiro - É o Dom Duarte Pio. Não, a sério, pensem no que estão a defender, é o Dom Duarte Pio. Se é para termos um tipo manso que não faz mal a ninguém e que gagueja e se enterra de cada vez que fala, já lá temos o Cavaco. E se é por causa do bigode, pede-se já ao Aníbal para deixar crescer um (até porque ele não tem dinheiro para a lâmina de barbear nem para a espuma).